Manhãs de Interiorização: práticas de silêncio e contemplação

2019 vem sendo um ano de grandes oportunidades para explorar minha Criatividade. Isso em vários sentidos.

Além do Programa das Manhãs de Expressão Gráfica[1], sobre o qual ainda vou fazer uma publicação específica, criei também o Programa Manhãs de Interiorização. Dada a proposta de valor diferenciada que inseri nas aulas de aquarela, desenho e outras técnicas gráficas oferecidas em parceria com colegas arquitetos e professores da área – a “Experiência de Montanha” – passei a receber a pergunta: “Mas e quem não tem afinidade com as Belas Artes?”  O que percebi foi que muita gente conhecida (que não desenha ou pinta) queria ter pelo menos uma vez na vida, essa experiência na montanha. Nela, além da novidade do contato íntimo com a natureza que propus a partir da minha vivência de mais de doze anos como montanhista, havia também oportunidade para experimentar momentos de silêncio e contemplação, coisa tão rara hoje em dia nesse mundo em constante transformação, velocidade, incerteza, inquietude e muitas escolhas divergentes.

A partir desta demanda surgiram as Manhãs de Interiorização. As atividades duram de 3 a 4 horas e, além da Experiência de Montanha, as Manhãs focam de modo mais profundo nas práticas de silêncio, meditação e principalmente, de autoconhecimento. Minha ideia é oferecer práticas diferenciadas ao longo do tempo, de modo que cada um possa experimentar algumas e assim chegar à conclusão do que funciona melhor para si, uma vez que autoconhecimento pode ser obtido através de muitas práticas contemplativas diferentes, inclusive seculares, muito utilizadas em contextos organizacionais e acadêmicos. No caso específico destas Manhãs de Interiorização, os clientes são grupos de indivíduos, fora do contexto corporativo. Gente que sente que precisa de um algo mais, não sabe exatamente o quê, mas diferente do que experimenta hoje. Menos barulho, menos agitação, contato consigo mesmo ou com algo maior (fora de si), contato com a natureza, enfim, tudo isso… Autoconhecimento é o início da grande transformação do ser humano e isso leva tempo, não é rapidinho, não acontece de uma hora para a outra, e você precisa ser muito disciplinado e focado. Se a sua praia estratégica for a de aprendizado contínuo, você começa levando vantagem, vai ter um pouco mais de facilidade para começar – e/ou para continuar – mas mesmo assim, ainda vai encarar momentos de dificuldade e fraqueza, pois manter um hábito saudável dá trabalho e é muito mais fácil se render às demandas convencionais. Ou simplesmente não fazer nada.  

Pois bem… O Programa das Manhãs de Interiorização se iniciou em fevereiro de 2019 e contou de primeira com a inclusão da Prática de Yoga, através de uma bela parceria formada com a Deepta, professora de Yoga e também montanhista. Com ela, dividi algumas experiências de escalada ao longo dos anos e, assim como eu, ela também estava buscando parceria e colaboração. O caminho se abre ao longo do caminhar, e cada vez mais isso se confirma em minha trajetória profissional.

Vista em direção à Pedra da Gávea e a Barra da Tijuca, a partir do cume da Pedra Bonita, Rio de Janeiro, 2018 | Foto: Marcia Poppe

A primeira Manhã aconteceu na Pedra Bonita, em São Conrado, cujo cume tem uma vista de 360° deslumbrantemente linda do Rio de Janeiro, muito mais que perfeito para as práticas de interiorização que gostaria de oferecer. Fazer cume é uma experiência linda e pode ser transformadora, envolvendo além da oportunidade para os aspectos mencionados, lições de superação, coragem, força de vontade, trabalho em equipe, habilidades de comunicação e planejamento[2]. A trilha é leve, dentro de um Parque Nacional, o cume é lindo, perfeito com a amplidão do mar e muitas outras montanhas por perto, tudo isso facilitando muito todas as práticas. Muita gente não sabe, mas se bem conduzida, uma experiência de montanha por si só, pode ser transformadora.

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Fotos das Manhãs na Pedra Bonita e na Floresta da Tijuca, em fevereiro e março de 2019.

Ao longo do primeiro semestre foram realizadas 4 Manhãs, a da Pedra Bonita (que vai se repetir no final de Setembro) e 3 na Floresta da Tijuca, no Alto da Boa Vista. Em todas, busquei as trilhas cuidadosamente, montei o roteiro, discuti o tema das meditações com a Deepta, sugeri o local da prática de Yoga (aprovado por ela posteriormente), criei as artes e os textos de divulgação, os questionários das inscrições e o todo o conteúdo teórico da Experiência de Montanha e das Práticas Contemplativas. As informações e inscrições ficaram a cargo da Deepta, que cuidadosamente criou e ministrou os conteúdos teóricos e práticos da Yoga para o grupo, facilitando também as meditações. Profissional incrível e muito dedicada, parceria que promete.

Nas Manhãs, as vagas são sempre limitadas por questões de Mínimo Impacto. Você que entende de cultura, seja no contexto organizacional, ou fora dele, em ambientes de projetos com equipes multiculturais, sabe como é importante conhecer e respeitar a diversidade de visões de mundo. A montanha existe para todos e precisa ser respeitada não só como lugar, mas também como cultura. Uma trilha aguenta um número determinado de visitantes por dia, o que em muitos parques nacionais e internacionais é verificado e controlado. O Brasil ainda engatinha nesse aspecto, entretanto, entre os montanhistas existe um cuidado tremendo em relação a isso. Práticas de mínimo impacto não se referem somente ao número de pessoas, mas também ao comportamento dessas pessoas na montanha. Não se grita, não se faz barulho, não se deixa lixo, não se faz fogo em qualquer lugar, não se faz atalho, não se leva um pedaço, não se fere uma árvore ou espécie animal, enfim, todas aquelas coisas que precisam urgente e diariamente ser ensinadas e cultivadas. Nossa Terra é nossa casa e precisamos cuidar bem dela.

As Manhãs tendem a se expandir. Continuarão acontecendo no modelo proposto, mas estou trabalhando outros formatos e modelos de negócio, com maior duração e conteúdo, para ser aplicado em casos específicos de treinamento de equipe e liderança, em que não só o autoconhecimento é fundamental, mas também aspectos relativos ao desenvolvimento de habilidades específicas, soft skills e múltiplas inteligências. Clientes e times de projeto dentro de alguma empresa ou organização poderão ser atendidos também.

[1] Em meu texto anterior, “Oficinas de Aquarela, Manhãs de Expressão Gráfica”, você pode saber um pouco mais sobre minha prática artística e as oficinas de aquarela que ministrei ano passado. O link está aqui: https://www.linkedin.com/pulse/oficinas-de-aquarela-manh%C3%A3s-express%C3%A3o-gr%C3%A1fica-marcia-poppe-pmp-msc/

[2] “Fazer cume” é a expressão usada por montanhistas quando atingem o cume de determinada montanha. Chegar ao cume, em muitos casos, não é único objetivo da ascensão. O processo vale muito também e atingir o cume é apenas a metade do caminho, pois a volta é infinitamente mais importante do que a ida. Você vai, mas você tem que voltar.

Texto publicado originalmente em 31 de agosto de 2019 no Linked In.